sexta-feira, maio 29, 2009

[Geração Raz/ca #4]

Entendem a linguagem VHS, são fãs de Cerélac e de pastilhas elásticas "Gorila". “Agora Escolha” é um nome que não esqueceram. Um certo jornalista e uma certa ministra da Educação baptizaram-nos de "Geração Rasca". Escolheram. Andam a fazer do mundo um estudo de caso com rebeldia na alma e mobilidade nas veias. No meio, aprendem o que é ser português. Sem lápis azul, reinventam os sonhos e uma certa ideia de cidadania. A "Crónica Luna Samba" anda à procura desses portugueses. A quarta dose: glup, com muita preguiça!

[“Minuim”, biodiversidade e, afinal, o que é isso tem a ver com Preguiça?]

Anda a sair da casca. E a culpa é da preguiça no Brasil. A comum. Está de malas feitas para o Acre, na Amazónia, onde vai ver de perto os passos do extractivista seringueiro Chico Mendes. Em nome da biologia, a sua paixão. Na do neotrópico encontrou-se e resolveu virar o jogo ao contrário. Pesquisador-objecto de estudo- pesquisador. Como a pesquisa da preguiça-comum é uma redescoberta. E não, isto não é terapia: “é biodiversidade”.

[Zoom in]
Sofia Marques Silva, 27, Porto

[Fermento Royal] Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

[Fuso horário] São Paulo, Brasil (GMT-3). Pesquisadora na Universidade de São Paulo

[Adenda] Estou a estudar genética populacional de preguiça – comum, com o objectivo de conhecer mais sobre a espécie e, eventualmente, contribuir para a sua conservação e do seu habitat. Uma frase grande e meia pomposa que significa que trabalho tanto como qualquer outra pessoa – não é só estudar, ler e ir às aulas – é um emprego.

[Mapa Mundo] Estagiei no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e trabalhos de campo em algumas Áreas Protegidas de Portugal. Estive, ainda, em Espanha a aprender técnicas laboratoriais.

[Kit SOS] Um conjunto de situações levou-me a esta decisão. Não era um sonho que tivesse. Saí para fazer currículo, pelo trabalho, pela ligação profissional que já tinha com São Paulo. Mas também para me libertar, para conhecer mais do mundo e das pessoas fora do meu universo.

[Kit de Costura] Ter ido para o Brasil.

[S.a.u.d.a.d.e.] Essa palavra que descobri agora… Faz-me sentir mais portuguesa. Tenho saudades da família e dos amigos, como é óbvio. Mas até me parece que tenho mais saudades das coisas simples: de peixe assado, da carne grelhada, do capuccino de máquina do local de trabalho. Do passeio na Foz a comer um copo grande de gelado quando estou com TPM. Do bar, do vinho, da rádio, do carro, do pôr-do-sol no mar…

[Selo de garantia] Um carimbo de algures (ou “nenhures”) de África. Gostava de poder trabalhar em conservação de elefantes. Este talvez seja um dos tais projectos não planeados. A ver se a vida me leva até lá…
[Oxigenar os neurónios] O que fazes para reinventar o teu dia-a-dia? Com conversa. Até posso baptizar o que gosto mais de fazer: “actividade tremoço e minuim”. Procuro conviver com as pessoas que gosto e que me fazem bem.

[No divã] O meu maior obstáculo sou eu mesma. Estou ultrapassando-me aos poucos… Por acaso o Brasil ajuda muito no processo.
[T.P.C.] Mudar Portugal? Ideias para o nosso canto. Se fosse possível devíamos tirar todos os portugueses de Portugal, instalá-los uma temporada algures no mundo e reuni-los novamente numa espécie de “aula de revisão”: precisamos de reaprender a ser humildes e orgulhosos – temos estas características, mas usamo-las na hora errada.

[Q.I] Esta experiência surgiu com um intuito profissional, mas tem sido muito pessoal. Tenho-me aprendido, sobretudo. Porém também descobri que a realidade é totalmente diferente aqui: no Brasil quando dizes “biodiversidade” nem sabes o quanto de espécies, ecossistemas, interacções é que estás na realidade a falar.

[Prémio Nobel da Paz] Olhar a Natureza como igual e não apenas como recurso.

[Ger.ação Raz/ca é...] um nome que uma geração parental deu à sua geração filha. Eu que tenho um pé na genética digo apenas que é tudo uma questão de hereditariedade.

[Liberdade de expressão] A nossa geração é excelente! É rasca e está à rasca porque está bem no meio da globalização e das alterações à velocidade da luz. Andamos pelo mundo a tentar sintetizar o excesso de informação. O que nos ensinaram em criança já não se aplica, o que estava certo (e é certo), hoje já não tem tanto valor e temos que agir com base em ensinamentos inúteis porque o mundo se expandiu mais rapidamente que nós.

Sugestões de entrevista para vnrodrigues@gmail.com

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