terça-feira, maio 30, 2006

Surf, Brasil

"Caros leitores", excepcionalmente interrompemos a nossa edição diária para dedicar este momento a um feito pessoal inédito e comprovável.
Para aqueles que duvidavam: eis a prova de que realmente aconteceu. Confesso que até eu duvidava! Não achei que fosse possível. Mas é verdade! Não só me equilibrei na prancha com um dia de aulas. Como também adorei a velocidade da onda.
Eis alguns momentos, registados pelo instrutor da Clínica de Surf Robson Pereira (que se dedicou a fotografar os mais de 30 alunos na Praia do Arpoador, Peruíbe).

segunda-feira, maio 29, 2006

O Brasil é esse contraste entre o luxo e a violência. A marginalidade e o bem-estar. A pobreza e a serenidade dos ricos. A subtileza dos espertos; e a perícia dos matreiros. Contrastes agudos que deixam cunhos que rasgam a mente de muitos. É um país que ainda agora comecei a conhecer. E já lá vão três meses. Passa rápido!

sexta-feira, maio 26, 2006

Fazenda de Murycana, Paraty

© Vanessa Rodrigues
Abril de 2006

quinta-feira, maio 25, 2006

Paraty

© Vanessa Rodrigues
Abril de 2006

Descritivo: Eis o Daniel, o nosso comandante/marinheiro; que nos conduziu às belezas de Paraty. A estrela- do-mar que segura descobriu-a minutos depois de atracarmos numa mini-baía de águas límpidas, para iniciarmos um passeio a nado, ao ritmo de snorkeling.

O fenómeno Lula

Suspeita de envolvimento no mensalão (e alegadas actividades corruptivas, também). Imaturidade política na resolução de conflitos energéticos com a América Latina. Hiato (regressivo?) de políticas sociais; estagnação de políticas de segurança (as mesmas de há dez anos, dizem os cientistas políticos). Tudo isso (e mais o que se desconhece) não é o suficiente para abalar o presidente do povo. Luis Inácio Lula da Silva mantém-se na liderança dos favoritos à corrida eleitoral. Se fosse hoje, venceria o primeiro turno. Com 45% dos votos. A reeleição, portanto. "É a cara do Brasil. Um país que acredita numa espécie de self-made man. Um herói de ascensão de classes. Esse é o marketing político dele" - palavras de C. sobre o fenómeno Lula.

quarta-feira, maio 24, 2006

A arte da guerra

Diz o cliché jornalístico, cunhado na imprensa brasileira, que Marcola (líder do gang paulista, PCC) já leu mais de três mil livros. (E como o boato é filho da informação precária e desvirtuada, nunca se sabe!). Do reportório consta o famigerado escrito de Sun Tzu, "A Arte da Guerra" (estratégia militar chinesa), murmurado nos corredores das estratégias empresariais, desportivas, negócios e...claro: bélicas. Lembro-me de há três anos, um professor de comunicação ter aconselhado a leitura, a propósito do planeamento comunicativo. O livro será mais mito do prático (?). De qualquer forma, o que é importante pensar é que a suposta subestimação do inimigo (?) é parente do erro e da falência da segurança. Os líderes mais acérrimos e mais cruéis da história mundial não foram, propriamente ignorantes. Saldaram-se homens cultos, imbuídos pela neurose absoluta do poder. Por isso, qualquer semelhança com realidades anteriores, não é pura coincidência. Um conselho: não se subestime a psicose criminosa.

terça-feira, maio 23, 2006

Ouro Preto, Abril 2006
© Vanessa Rodrigues

quinta-feira, maio 18, 2006

Ouro Preto, Festa do Tiradentes

Abril de 2006
Vanessa Rodrigues @ copyright

Em tom de ...Tom Zé

"Eu estou condenado à originalidade"
(...)
"A vida brasileira não me aceita porque eu sou da roça do Brasil"
Tom Zé

Recomendo a entrevista do dia 9 de Maio no programa da TSF: "Pessoal e... Transmissível". O link é encontrado no título deste post, depois clicar em Arquivo de Programas.

Um artista por inevitabilidade. Um original na incapacidade de fazer bonito.

P.S. Obrigada P. por me teres dado a conhecer mais dessa alma brasileira.

quarta-feira, maio 17, 2006

Ensaio sobre o Caos

Por Vanessa Rodrigues @
É quando a informação declina que os boatos invadem os ânimos. Histórias contrárias. Em colisão. Medo, pânico, receio. A ansiedade contamina a comunicação. Os relatos aumentam. E dispersam. Perdem rumo e acabam no centro do caos. No limite do raciocínio. E jazem planos sobre uma tábua rasa de ausência de provas de facto. O perigo existia sim. Estava disperso pela cidade como uma caixa de pandora. Sem centro. Ou lógica! (E tem de haver lógica?) E sim. Foi um cenário inédito em São Paulo. No Brasil. O que acontece, por vezes, no Rio, nunca teve esta escala. Dizem os entendidos.

Às 9h da manhã, de anteontem, cada um já tinha a sua história. A tia que passou em frente a uma agência bancária “metralhada” e foi a correr para casa, com medo. O marido que não conseguiu chegar ao trabalho, mesmo depois de três horas no trânsito. A escola do filho que ia encerrar mais cedo. “Estão fechando as escolas e liberaram os meninos. Vou pegar eles e seguir p´rá casa”, realçava Y. Colégios de portas fechadas. Universidades que interromperam as aulas. A sogra que saiu a correr na Rua Teodoro Sampaio, no centro, porque “os bandidos” estavam a passar de moto e a ordenar que as pessoas fossem para casa. (Depois falou-se que a ordem tinha sido da polícia. E mais tarde especulava-se que talvez tenha sido boato, lançado pelos próprios lojistas, inquietados pelos acontecimentos).
Às 15h o shopping aqui em frente, mesmo no Itaim, estava vazio. Os comerciantes não sabiam o que fazer. Hesitavam. Acabaram por fechar. E as faces estavam pintadas de uma sensação de surpresa; e zelo hiperbolizado. A cidade do caos. Da disfuncionalidade. Do deserto histórico. “Nem na repressão”, ouviu-se no hall. O burburinho dos corredores deixava adivinhar o tema do falatório. Aqui e ali ninguém se concentrava. Quando a Internet deixou de funcionar, convenientemente, a meio da manhã, já se especulava: devem ser "eles" (bandidos!!!). O servidor foi abaixo. Já se faziam pequenas piadas. Humor sarcástico sobre o caso. Uma espécie de lei de murphy a favor do PCC. Depois alguém disse que a mulher de X, que trabalhava na Telefónica relatou que as linhas de Internet foram cortadas. Mas depois a net voltou. E começou a sobrecarga das caixas de email.
O dia passou num ápice. Acelerado. E de respiração inquieta. Ofegante! Inundado da forma mais fácil de declinar a sensatez: pânico e insegurança. Os olhares cruzavam-se numa adrenalina de interrogação. “Como se pode sair daqui?” Depois, as empresas dispensaram os colaboradores mais cedo. “É porque a coisa está ficando séria, então!”, ouvia-se. Ninguém conseguia sossegar. Serenar e manter-se de mente fria. As linhas de telemóvel sobrecarregaram. Os mais tardios na arte de partilhar (o que estava a acontecer) não o conseguiram fazer. “O que se está a passar; não consigo falar com meu namorado”, confessou Z. “Ele está na rua fazendo matéria. A R. mandou ele prá lá. Caraca! Putz! Tá uma confusão danada”, acrescentou N.
A rádio era a melodia das salas de trabalho. As últimas da TV eram o centro das atenções. A informação circulava, circulava. E as emoções colapsavam.
À hora da saída do trabalho (e escola), o trânsito começou a inundar as pequenas ruas; as grandes avenidas e a mais pequena ruela. Todos saíram ao mesmo tempo. E queriam evacuar-se da rua. Cem metros prometiam 20 minutos de espera. À luz do dia as montras estavam mascaradas de portadas de aço. Plenamente fechadas. E tudo ansiava a calma do lar. Onde ainda havia a sensação de se estar seguro. E sim: foi o pânico que infernizou e causou o caos. E sim: foi a imprensa que exarcebou a situação, também. E claro: foi esta contaminação sensacional que entrou no canto da lógica para a adormecer. Agora, Sampa começa a respirar normalidade, no rescaldo da crise de segurança. E hoje, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou num dia o que demorou três anos. O quê? Projectos que aumentam o rigor da segurança pública. Talvez para evitar, depois do ensaio, a estreia absoluta do caos urbano.

segunda-feira, maio 15, 2006

Rebelião em São Paulo

Há tumultos em São Paulo, sim! A cidade está ansiosa. Agitada e a meio gás. Sem dúvida que está a parar e que pessoal está agitado. Mas sosseguem aqueles que estão mais preocupados, já que estamos todos juntos, tranquilos e com segurança.

sexta-feira, maio 12, 2006

Deste lado de cá, o céu acordou cinzento e bafiento; e as ruas albergaram uma chuva miudinha. As nuvens pareciam carregadas e ameaçavam juntar-se às poças sujas das ruas. Os carros não hesitavam em rolar sobre elas e molhar as pessoas nos passeios.
O frio saiu à rua, também. Para espantar a ideia de que se está num país tropical. Hoje, vesti, pela terceira vez, um pullover de lã. Sampa é assim. A cidade das quatro estações!

quarta-feira, maio 10, 2006

Vanessa Rodrigues @ Copyright

Ironicamente, esta foto retrata um pouco de mim. Assim, sem destino por este espaço a que se chama mundo. (Haverá algum lugar que seja, simplesmente, "Sem Destino"?)

Piriquê II

Alguém tenta tirar uma fotografia ao garoto. É que o petiz cativa! Assemelha-se, até, a uma espécie de cliché de cinema. Mas apenas visto, assim, de perto! Bem de perto. Não fala muito! O que tem a menos de conversador, compensa na observação. É um pequeno curioso. Gosta de olhar. Tem o olho esperto. Vivo! Malandro e pueril!
O pai acabou de arranjar as ostras. Vai entregar para o casal de namorados que se espraia sobre a espreguiçadeira de madeira. Sob o sol fraco; tímido. O prato está ornado de limão e saliências cinzentas; de relevo insinuante.
A areia desliza sobre os pés e o pai de Piriquê curva-se em espécie de reverência. O casal pergunta a dívida. O homem faz um desenho na areia, para explicar ao casal o preço das ostras. Não dá para ter desconto. O preço já está em conta, argumenta. Eles ainda regateiam. Mas o homem velho de mãos secas e rugosas não cede, porque não pode. Vê-se nos olhos. E no balançar do corpo inquieto.
Ele volta ao pequeno balcão. Vai almoçar, finalmente, recolhido por baixo de uma esplanada de madeira, que deixa os pilares à vista. Parece uma espécie de refúgio de pontão marítimo. Piriquê debruça-se novamente sobre o balcão das ostras. Agora os irmãos ajudam. Ele fala mais. É autoritário, o garoto, afinal! Tem voz acentuda. Respondão. Pega na faca e corta as ostras. Uma a uma! A cara está cheia de areia, sob o rosto negro. Mescla-se com a tez escura, numa simbiose de constrastes. Ele não parece importar-se. Não se incomoda. Observa a perícia do irmão mais velho (pouco!) a tirar a ostra, que desliza numa dança gelatinosa sobre a faca. Quer imitar! Ensaia uma tentativa e espera a conquista!
Vanessa Rodrigues @ copyright
Nota: este conto inédito é a continuação de um outro - Piriquê I- já aqui publicado anteriormente.

Porto, São Paulo


Toca a poupar para cá vir.

terça-feira, maio 09, 2006

segunda-feira, maio 08, 2006

Ouro Preto, ainda
























Por Vanessa Rodrigues @ Copyright

sábado, maio 06, 2006

O pequeno das ostras I

Piriquê gosta de brincar na praia. Enrola-se na areia como uma bola molhada. Chapina a água do mar e corre para apanhar uma fantasia imaginária. Espontânea. Rodopia. Com o o corpo molhado volta a enroscar-se nos grãos finos das rochas sedimentadas. Dobra a perna direita e estende a esquerda para se sentar. Balança com o corpo. A queda é pequena. Natural. O chão está perto. Queda-se. Agita-se de novo.
Agarra com a pequena mão a areia humedecida. E deixa-a deslizar nas pequenas mãos negras. As gotas do banho enxaguam o que a pele tem de seco. Ela brilha. E as costas pequenas da pele negra têm reduzidos pêlos louros, dourados pelo sol. Uma pele assim, escura, já nasceu com a dádiva da extensão solar. Quando não brinca no areal, Piriquê debruça-se sobre a barraca do pai, enquanto ele arranja as ostras frescas. Corta-as. Com um rápido golpe, ele solta aquela textura agelatinada da carapaça. Tempera-as com limão. Ou laranja. Dezoito ostras são quinze reais. Meia dúzia, doze reais.
O pequeno de olhos esbugalhados, olhar desprendido e gestos arrebitados ajuda o progenitor. Escolhe as ostras velhas para o lixo. Pega numa. Cheira-a. Ignora o aroma azedo e atira-a para o tabuleiro que se estende sob a minúscula barraca. Parece-se com uma arca de gelados, ornado com guarda-sol. Pintada de vermelho na faixa de cima e de baixo, a pequena arca tem a meio um fundo branco que é uma lona esticada.
“Ostras Frescas”, lê-se a azul escuro. E vislumbra-se depois: “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará! Salmo 23”. Assim, a frio, racionalmente, até parece que falta muita coisa a Piriquê – menos a infância, quem sabe! Isso nem a carência rouba ao garoto.
Ainda sentado na borda da caixa, o pequeno esconde-se atrás do balde de água improvisado. Sem o saber, ele está escondido do meu olhar. E do horizonte que se estende para lá da areia.

quinta-feira, maio 04, 2006

quarta-feira, maio 03, 2006

A greve de fome (chique) do Garotinho

Domingo ao final do dia. Fim-de-semana prolongado. Um político mimado (hum, não serão todos?) resolve deixar de comer. Por perrice. Mediatismo. Expiação, talvez. Ou lavagem colectiva mental do poder do simbolismo. E do flash mediático.
Desde Domingo que o pré-candidato à presidência da República do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, (PMDB), Anthony Garotinho, está em greve de fome. Mas, atenção: uma greve chique. Com direito a médico que vigia o ritmo cardíaco. Os sinais de fraqueza. O medica. O apaparica. Eis que surge, portanto, uma nova categoria de suspensão voluntária de comer. As razões? Protesto contra as denúncias de irregularidades na arrecadação de recursos para a sua pré-campanha. A última edição da revista Veja (“A face oculta de Garotinho”) reforça essas acusações, enunciando uma lista de irregularidades. O ciclo jornalístico foi inevitável. A imprensa circulou as denúncias. À porta da sede do partido, foi colocado um livro que recolhe assinaturas para apoiar Garotinho. Este “peemedebista” já enviou uma carta do protesto para a Organização dos Estados Americanos, solicitando que haja uma supervisão internacional do processo político eleitoral (em Outubro). E pede ainda igualdade de tratamento em relação aos outros candidatos. Garotinho reforça que as denúncias são falsas, não fazem sentido e que isso não o desmobiliza da candidatura- já sabemo!!! (o jogo do não, contra o jogo do “talvez–quem-sabe!E-até-pode ser-mas- nunca-se-saberá!”). Portando temos aqui um “almofadinha” mimado, irresponsável. Indigno.
Mas o que me irrita aqui não é o espaço que a imprensa lhe dedica (também!). Enunciando a evolução da tensão arterial. As gramas que perdeu (há sites que apelam, ironicamente, que ele perca muitos quilos, a ver se desaparece de vez- kibeloco). O que irrita aqui é a estupidez, a insensibilidade de uma pessoa que, num país onde tanta gente morre de fome (e vive em condições de miséria), tem a distinta lata de conspurcar os limites da indiferença; da inconsciência mórbida.