Gilmar aproximou-se ao longo de um tempo. Pacientemente esperou na fila para ter uma assinatura no livro. Enquanto os leitores são poucos e dedicados, consigo e apraz-me personalizar as dedicatórias e as palavras de gratidão para quem dispõe de tempo pessoal e físico para ouvir falar sobre "O Barulho do Tempo", um livro que desvela pedaços da intensidade das minhas vivências, o Amor, a democracia, as ruas do povo, nós soltos, a reinvenção da vida e a importância do tempo de cada um, envelhecer, viver.
Gilmar veio vestido de sorriso, nos olhos, no rosto, nas mãos. Apertou-me a mão e falou-me com a doce voz de um Português adocicado.
Eu digo que tenho um complexo de Brasil porque não se desprende. Plasmou-se no meu ADN e insiste, claro, em dobar linhas muito ténues, subtis e evidentes sobre a minha missão como brasileira por afinidade. É que, como percebem, percebo, intuo, concluo, o complexo do Brasil aparece sempre ligado a todos os episódios da minha vida. Ontem, confirmou-se a tese, logo após a sessão de apresentação do meu primeiro livro de poesia e prosa lírica, na livraria do El Corte Ingles, em Gaia.
Gilmar a voz doce:
-Eu tenho de falar para você de coincidências.
- Ah, você é brasileiro. Eu vivi em São Paulo.
- Eu sei, acabei de ler aqui em seu livro. Eu sou do Estado de São Paulo.
-De onde?
- Ribeirão Preto. Mas o mais engraçado é que eu estava passando com meu amigo - estou de viagem aqui em Portugal - e reparei, por acaso, no cartaz com o título de seu livro e em seu nome e na sessão que estava rolando. Parei e resolvi comprar e pedir a você para assinar. É que minha filha, a quem gostaria que você dedicasse este livro, também se chama Vanessa e é escritora. Tem 5 livros publicados.
-Muito Parabéns. E Obrigada por ter parado.
- Ela é um pouco mais velha que você, tem 36 anos.
- Será um prazer escrever para minha homónima.
- Ela vai ficar muito feliz com a coincidência.
- Eu é que fico. Sabe, é que viver 5 anos no Brasil, numa fase de transformação de vida, dos 25 aos 30 anos, é uma espécie de nacionalidade obrigatória. Eu costumo dizer que a minha outra costela é brasileira.
- 5 anos no Brasil, como jornalista... você era mais brasileira já do que portuguesa. Desejo muito sucesso para você.
Deixei o meu e-mail, agradeci com os olhos, o rosto e as mãos. No final ele disse:
- Tenho certeza de que você ganhou uma amiga para a vida. Com certeza ela vai-te contatar.
Em rigor, estou contaminada pela crónico complexo do Brasil. Mas, enfim, eu gosto.
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