domingo, maio 19, 2013
Conta-me Histórias
O músico brasileiro Tom Zé acredita que o homem da mala, um mimo, aquele que no meio de uma praça conta uma história, sem dizer uma palavra, “é um herói da literatura não falada”. Confidenciou isso a Lis, no seu apartamento em São Paulo, enquanto um bem-te-vi entrava pela janela, como entrasse numa fábula. Esse adolescente de 80 anos é,acima de tudo, um contador de histórias. Herdou o dom porque, à noite, no sertão, de onde vem, os estrangeiros sentavam-se na sala a relatar errâncias e aventuras de cangaço, sátiras e donzelas. Não é por acaso que a literatura de cordel, que é a oralidade imortalizada, se popularizou no nordeste brasileiro. Não é casualidade que a relação telúrica inspire mitos e lendas para explicar a vida. Há qualquer coisa de mágico na tradição oral.
Talvez por isso A., amiga de Lis, vaticina o fim de uma relação quando cessam as histórias. “Conta-me uma história”, pedia ela ao apaixonado,enquanto o calor do sonho ameaçava já engolir a noite. É bonito pensar que uma relação também vive de estórias. Como a de Lis com a avó. Recorda-se que, quando era pequena, aquela mulher instruída na quarta classe inventava fábulas para logo as esquecer. O despertador de ponteiros fosforescentes em cima do guarda-vestidos estava tão acordado quanto Lis pedindo um novo enredo antes de acalentar os sonhos. Era uma caixa de histórias a avó de Lis: amores e amizade, lições de moral. Levou-a a lugares onde nunca iria sozinha.
Também na Amazónia, em Suruacá, Dona Martinha contou a Lis sobre botos que se transformam em homens seduzindo mulheres, de cobras grandes, de curupiras. É, há qualquer coisa de encantador e transcendental na magia que partilhamos aos outros. De agora em diante, antes que lhe digam o nome, mesmo que seja o homem da mala, Lis vai pedir:“Conta-me histórias daquilo que eu não vivi”.
*Crónica publicada da 10 de Maio de 2013, no Semanário Grande Porto, na página Bairro dos Livros, uma iniciativa Culture Print. Esta coluna semanal é revezada com o Jorge Palinhos, o Rui Manuel Amaral e o Rui Lage.
terça-feira, maio 14, 2013
Remember US| By Dalia Abuzeid
Hi everyone. I´ll be working as a documentary researcher and scriptwriter for the documentary "Remember US" by Dalia Abuzeid, in Jerash - a palestinian refugee camp, in Jordan. Please watch this film intro and help us raise awareness, share
this campaign and if you may contribute to our attempt to make the Gaza
refugee story to spread to the world. Thank you very much!
You can also follow us on Facebook page "Remember US".
http://www.indiegogo.com/projects/remember-us-the-second-step
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Remember Us Introduction - Fund raising / English from Dalia Abuzeid on Vimeo.
quinta-feira, maio 09, 2013
"O Palco é um Mundo"
"Caros Espectadores, caros Ouvintes, não estranhem encontrar paixão e sacrifício, cheiro a silêncio, amores que nasceram no teatro e, às vezes, atores e atrizes tímidos. William Shakespeare, o dramaturgo inglês, escreveu que o mundo é um palco, nesta viagem ao centro do mundo do teatro amador o palco será nosso atlas para escrever a vida." Isto e muito mais, logo, depois do noticiário das sete da tarde na TSF, grande reportagem "O Palco é um Mundo" com sonoplastia de Joaquim Dias.
A PEÇA teaser veiculada no noticiário da manhã na rádio TSF e que lança a grande reportagem, pode ser ouvida aqui.
Já sobre a grande reportagem, poderão ouvir diretamente neste LINK na TSF
domingo, maio 05, 2013
Complexo do Brasil
Gilmar aproximou-se ao longo de um tempo. Pacientemente esperou na fila para ter uma assinatura no livro. Enquanto os leitores são poucos e dedicados, consigo e apraz-me personalizar as dedicatórias e as palavras de gratidão para quem dispõe de tempo pessoal e físico para ouvir falar sobre "O Barulho do Tempo", um livro que desvela pedaços da intensidade das minhas vivências, o Amor, a democracia, as ruas do povo, nós soltos, a reinvenção da vida e a importância do tempo de cada um, envelhecer, viver.
Gilmar veio vestido de sorriso, nos olhos, no rosto, nas mãos. Apertou-me a mão e falou-me com a doce voz de um Português adocicado.
Eu digo que tenho um complexo de Brasil porque não se desprende. Plasmou-se no meu ADN e insiste, claro, em dobar linhas muito ténues, subtis e evidentes sobre a minha missão como brasileira por afinidade. É que, como percebem, percebo, intuo, concluo, o complexo do Brasil aparece sempre ligado a todos os episódios da minha vida. Ontem, confirmou-se a tese, logo após a sessão de apresentação do meu primeiro livro de poesia e prosa lírica, na livraria do El Corte Ingles, em Gaia.
Gilmar a voz doce:
-Eu tenho de falar para você de coincidências.
- Ah, você é brasileiro. Eu vivi em São Paulo.
- Eu sei, acabei de ler aqui em seu livro. Eu sou do Estado de São Paulo.
-De onde?
- Ribeirão Preto. Mas o mais engraçado é que eu estava passando com meu amigo - estou de viagem aqui em Portugal - e reparei, por acaso, no cartaz com o título de seu livro e em seu nome e na sessão que estava rolando. Parei e resolvi comprar e pedir a você para assinar. É que minha filha, a quem gostaria que você dedicasse este livro, também se chama Vanessa e é escritora. Tem 5 livros publicados.
-Muito Parabéns. E Obrigada por ter parado.
- Ela é um pouco mais velha que você, tem 36 anos.
- Será um prazer escrever para minha homónima.
- Ela vai ficar muito feliz com a coincidência.
- Eu é que fico. Sabe, é que viver 5 anos no Brasil, numa fase de transformação de vida, dos 25 aos 30 anos, é uma espécie de nacionalidade obrigatória. Eu costumo dizer que a minha outra costela é brasileira.
- 5 anos no Brasil, como jornalista... você era mais brasileira já do que portuguesa. Desejo muito sucesso para você.
Deixei o meu e-mail, agradeci com os olhos, o rosto e as mãos. No final ele disse:
- Tenho certeza de que você ganhou uma amiga para a vida. Com certeza ela vai-te contatar.
Em rigor, estou contaminada pela crónico complexo do Brasil. Mas, enfim, eu gosto.
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