terça-feira, outubro 26, 2010
sexta-feira, outubro 22, 2010
terça-feira, outubro 19, 2010
FALA COM ELA - RADAR
"Tudo o que ela não teve coragem de dizer, pintou-o..."
Entrevista com Paula Rego
quinta-feira, outubro 14, 2010
quarta-feira, outubro 13, 2010
O mundo, em imagens
Revista Digital de Fotografia Documental 7.7
Traz 5 ensaios fotográficos 1. sobre um culto sexual chamado os Kaotians na Austrália;
2. Comunidades remotas na Califórnia atrasadas pela Depressão de 30;
3. Os palestinianos;
4. Selecção de Illinois de cadeira de rodas;
5. Selva peruana
Traz 5 ensaios fotográficos 1. sobre um culto sexual chamado os Kaotians na Austrália;
2. Comunidades remotas na Califórnia atrasadas pela Depressão de 30;
3. Os palestinianos;
4. Selecção de Illinois de cadeira de rodas;
5. Selva peruana
terça-feira, outubro 12, 2010
TROPA DE ELITE 2
Está a preparar-se para ir ver de novo este TROPA DE ELITE 2 porque é muito bom. Inteligente, com punho cerrado de vários socos no estômago. Um sistema polvilhado a estilhaços de feridas crónicas e seus tentáculos onde a palavra violência é só um eufemismo. Um aprendiz de eufemismo!
segunda-feira, outubro 11, 2010
Apologia dos Sobreviventes e o início de um inferno implacável para fugitivos
De imagem inalcançável, suspensa, longe, detida na linha imaginária. A parede pintada descascada. A janela aberta, trespassada de vento, areia, silêncios. Ela, sentada na cadeira de plástico de alpendre, lê “A invenção de Morel” de Adolfo Bioy Casares.
Descansa as pernas na outra cadeira de plástico, onde lhe repousa o mundo. Todo o mundo está naquelas pernas, com a quilometragem do que viveu em caminhadas, ainda que nem sempre as tenha movido de si para as percorrer. Silencia-se. Há a janela. Se estivesse numa deserta ilha poderia estar mais consigo do que quando a ilha em si se desertifica. Seca. Nunca seca. Muda-se. Que ilha é agora, não saberíamos dizer. Quantas ilhas pode ser um homem, não saberemos nunca.
Descansa as pernas na outra cadeira de plástico, onde lhe repousa o mundo. Todo o mundo está naquelas pernas, com a quilometragem do que viveu em caminhadas, ainda que nem sempre as tenha movido de si para as percorrer. Silencia-se. Há a janela. Se estivesse numa deserta ilha poderia estar mais consigo do que quando a ilha em si se desertifica. Seca. Nunca seca. Muda-se. Que ilha é agora, não saberíamos dizer. Quantas ilhas pode ser um homem, não saberemos nunca.
Repousa o livro na mão direita, agarrando as páginas amareladas com o polegar. Mantém a abertura com a mão esquerda, mais solta. E, talvez, menos vivida. Uma mão que é menos usada, não pode ter vivido mais, mas com certeza poderá afagar a outra quando se sentir cansada. A vida é, raramente, ambidextra. Raramente. O fio ténue do balanço exacto não é fórmula que se saiba decifrar.
Leu o prefácio de Borges. Cansou-se. Leria sobre Casares depois, no final, quando já tivesse tirado as ilações pessoais, para poder ler o que os outros escrevem sobre outros e que, por mais brilhantes que sejam, não deixam de nos turvar os sentidos. Lia em inglês, pensava em inglês, mas não sabemos no que se transformou depois o pensamento. Leu isto e deteve-se a olhar a imagem inalcançável, turvada, pela garoa do fim da manhã.
“I am writing this to leave a record of the adverse miracle. If I am not drowned or killed trying to escape in the next few days, I hope to write two books. I shall entitle them Apology for Survivors and Tribute to Malthus. My books will expose the men who violate the sanctity of forests and deserts; I intend to show that the world is an implacable hell for fugitives, that its efficient police forces, its documents, newspaper, radio broadcasters, an border patrols have made every error of justice irreparable”.
segunda-feira, outubro 04, 2010
O destino, ou Zadig
“O grande mago começou por propor esta pergunta: ‘Qual é de todas as coisas do mundo a mais longa e a mais curta, a mais rápida e a mais lenta, a mais divisível e extensa, a mais desdenhada e lamentada, sem a qual nada se pode fazer, que devora tudo o que é pequeno e vivifica tudo o que é grande?’ (…)
Uns disseram que a chave do enigma era a fortuna, outros a terra e outros a luz. Zadig respondeu que era o tempo.
- Não há nada mais longo, acrescentou, pois ele é a medida da eternidade; nada é mais curto, pois ele falta a todos os nossos projetos; nada é mais lento para quem espera, nem mais rápido para quem goza; estende-se até o infinito em grandeza, divide-se até o infinito em pequenez; todos os homens o desdenham e todos lamentam a sua perda; nada se faz sem ele; faz esquecer tudo o que é indigno de posteridade e imortaliza os grandes feitos.
A assistência admitiu que Zadig tinha razão.”
Zadig, conto filosófico de Voltaire
domingo, outubro 03, 2010
Toda a coincidência será a verdade
Passei a tarde no hospital. A dor de ouvido não passa, piorou, a garganta está cúmplice das ligações enfermas de otorrinolaringologia pessoal, e a febre tomou conta deste corpo. Com a espécie de folga que me saiu na rifa durante a tarde de hoje, fui até ao Hospital das Clínicas, a arrastar este corpo de metro, chuva e frio, rabugenta por ter de passar o que me resta de descanso numa sala cinzenta de hospital, sozinha. Eu própria não estava com melhor cor. Duvido se estaria no mundo dos vivos. A língua agarrou-se à geografia da febre e os meus olhos vermelhos não enganam o mais desprevenido dos médicos.
-A senhorita tem dormido bem? (Não, claro que não, não se nota?)
Devo ter esperado umas três horas até ser atendida. Sentei-me, abri o livro e ouviu-se:
-"Você pode calar a boca. Desde que aqui cheguei você não parou de falar. Cale-se, Cale-se, Cale-se".
As palavras ecoaram na sala quase vazia onde esperei por quase três horas. Estes foram, talvez, os centésimos de tempo mais animados naquela sala cinzenta. Olhei de esguelha: vi uma mulher a levar soro, envergando uma bata de médica. A enfermeira que ela mandava calar saiu da sala e mandou o recado para alguém:
-"Você se importa de ir ver o que se passa com a médica lôquinha? Ninguém merece".
Tirei o meu olhar de esguelha, enquanto a médica "lôquinha" já me fitava.
Olhei para a capa do meu livro e não tive certeza se não seria tudo fruto de uma alucinação pessoal, imposta pela doença, e aquilo não passava de um filme imaginário que o meu cérebro me infligia: "Diário do Hospício" e "O Cemitério dos Mortos" de Lima Barreto. Foi este o livro que atirei para a bolsa antes de sair de casa, como paliativo para a espera que já sabia sair-me na bola de cristal desta tarde modorrenta. Foi este o livro que folheei e deitei os olhos vermelhos, enquanto esperava - e o ouvido latejava, e a febre arrepiava o corpo.
Então, pensei que tudo isto era um sonho. Outro. Ou um pesadelo, que é um sonho mais pesado. Depois de quase três horas ouvi o meu nome ser pronunciado no corredor, ecoando.
-Diagnóstico: Está com uma infecção viral no ouvido e na garganta, por isso a febre. Muitos líquidos, anti-inflamatório, e descanso.
Não consegui discernir se era verdade ou mentira o que ouvia. Outra alucinação? Mas só sei que o pesadelo começa aqui. Descanso: só depois de segunda de manhã. Vou dormir, a ver se a dor passa, para amanhã fingir que estou bem, que nada se passa e que a minha voz estará maravilhosa e, quem sabe, os olhos menos vermelhos. Quem sabe poderei fingir que tenho outra carcaça, ou que outra Vanessa, sem dor, habita aqui.
-A senhorita tem dormido bem? (Não, claro que não, não se nota?)
Devo ter esperado umas três horas até ser atendida. Sentei-me, abri o livro e ouviu-se:
-"Você pode calar a boca. Desde que aqui cheguei você não parou de falar. Cale-se, Cale-se, Cale-se".
As palavras ecoaram na sala quase vazia onde esperei por quase três horas. Estes foram, talvez, os centésimos de tempo mais animados naquela sala cinzenta. Olhei de esguelha: vi uma mulher a levar soro, envergando uma bata de médica. A enfermeira que ela mandava calar saiu da sala e mandou o recado para alguém:
-"Você se importa de ir ver o que se passa com a médica lôquinha? Ninguém merece".
Tirei o meu olhar de esguelha, enquanto a médica "lôquinha" já me fitava.
Olhei para a capa do meu livro e não tive certeza se não seria tudo fruto de uma alucinação pessoal, imposta pela doença, e aquilo não passava de um filme imaginário que o meu cérebro me infligia: "Diário do Hospício" e "O Cemitério dos Mortos" de Lima Barreto. Foi este o livro que atirei para a bolsa antes de sair de casa, como paliativo para a espera que já sabia sair-me na bola de cristal desta tarde modorrenta. Foi este o livro que folheei e deitei os olhos vermelhos, enquanto esperava - e o ouvido latejava, e a febre arrepiava o corpo.
Então, pensei que tudo isto era um sonho. Outro. Ou um pesadelo, que é um sonho mais pesado. Depois de quase três horas ouvi o meu nome ser pronunciado no corredor, ecoando.
-Diagnóstico: Está com uma infecção viral no ouvido e na garganta, por isso a febre. Muitos líquidos, anti-inflamatório, e descanso.
Não consegui discernir se era verdade ou mentira o que ouvia. Outra alucinação? Mas só sei que o pesadelo começa aqui. Descanso: só depois de segunda de manhã. Vou dormir, a ver se a dor passa, para amanhã fingir que estou bem, que nada se passa e que a minha voz estará maravilhosa e, quem sabe, os olhos menos vermelhos. Quem sabe poderei fingir que tenho outra carcaça, ou que outra Vanessa, sem dor, habita aqui.
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