quinta-feira, abril 30, 2009
Cidade-Fantasma
Têm cheiro a paredes velhas e bafo amadeirado, suado, de casas usadas. Fumam a vida como éter. Puff! Esvão-se em pó velho. Têm tinta nas paredes para esconder o sangue das ditaduras. A das palavras e as silenciosas. As mais perigosas que deixamos entrar. Abrimos a porta. "Clav...Clic..Rank". Deixamos que ela se meta na cama como uma amante discreta: dissimula os cheiros do cigarro, não usa batom, nem perfume, só o do corpo depois ido com sabonete neutro; e tem sempre uma camisa a mais para ele com o número exacto, a marca precisa que enganaria a mais exímia das mulheres e é especialista em produtos anti-sépticos contra a polícia conjugal. As cidades-fantasma que habitam em nós são assim. Aquelas que metem as amantes numa casa vazia. São lugares esvoaçantes, idos, que deixam o lixo povoar as ruas, as casas, e toda a beleza de uma brisa tardia sem rasto, exangue, silenciosa, em neurose com a memória porque nunca existiram.
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