22h17
Tá tá tá… ploc..ploc…. Silêncio..tá, tá, tá, ploc, ploc! “Seu filho da puta!” Tá, tá, tá…
“Seu filho da puta”….
“Baleado, baleado, tem um cara baleado”….
…
“Agora mesmo!”
….
“Vem logo!”
E ele continuava a gritar, desesperado. A voz tremia. Reacção seca, ao instante. Não era ele, deitado no chão. Era outro que não teve tempo de gritar. Não se sabe se resistira. Assalto. Só se ouvira o baque seco, segundos antes. Ali em frente ao ponto de táxis. Mas não tinha táxis naquele instante. Do lado da padaria, fechada! Ninguém passava. Só aquele que gritara. E chamara a polícia. Mas ele era da polícia. Silêncio.
22h17.
Vidraças que deslizavam nas varandas, nas janelas; para ver acontecer. Ele apagou a luz. Abriu a vidraça. Um som novo, que não fazia parte do seu quotidiano – esse o das balas. Até podia não ser! Até ouvir:”baleado”!
22h18
Muitos corriam em direcção ao ponto que se via, no alto do quinto andar. Ali mesmo naquela rua, antes do cruzamento com a outra. Sempre uma, e outra! Minutos depois, como ratos que fogem do fogo, carros de polícia aceleravam na rua, como tunnings… Motos ultrapassavam as viaturas que estavam agora barradas naquela via. A do crime, ou da normalidade de uma cidade assim, de extremos. É que a linha que divide a normalidade da anormalidade é muito ténue. E o tempo é mais célere, como se tudo pudesse acontecer no mesmo instante.
22h19
Ligou ao porteiro. O que se passara?
“Está tudo bem”?
“Pelo que ouvi senhor, parece que houve um assalto aqui do lado”.
“E os tiros”?
“Não sei senhor, parece que balearam alguém. Agora o que aconteceu ao certo eu não sei. O que importa é que com a gente está tudo bem, graças a deus”!
Até parecia. Todos olhavam a cena do alto dos andares. Até parecia estar tudo bem com os que olhavam de cima.
22h20
Estudantes passavam e olhavam para trás. Ficaram parados. Olharam de novo. Nervosismo inculcado. Ainda atordoados entre o que pode ser real ou ficção.
O Bomboa também parou. Em segundos, homens saíram lá de dentro. Queriam ver o que se passara. A rua engarrafou por minutos. A impaciência fez as buzinas gritarem, estridentes, redundantes, irritantes. Com o corpo imóvel.
E agora só se vêem luzes vermelhas a piscar. Onde estão estas luzes só há duas hipóteses: já aconteceu ou ainda vai acontecer.
22h21
Nestes instantes nenhuma ambulância chegou. Não chegou… a chegar! Apenas os ratos atarefados na intervenção. O estigma da massa. Tanta polícia… para nada. A chegada não é prevenção. Aparato!
As luzes piscantes desapareceram. O estacionamento das motos, alinhadas em espinha, dispersou. Aceleraram noutra direcção. A poça de sangue lá ficou, no escuro, entre as árvores. Não se via. Mas sentia-se o cheiro de sangue. Se ficcionada ou real, melhor é nem querer saber. Não se quer, como os outros. “Viver assim é foda”, diz-se!
E por momentos pararam as suas vidas: 22h22.
O homem fugiu. O polícia seguiu!
“Aí quando o cara puxou da arma, policial não teve outra. Matou o cara!”
22h23
sexta-feira, novembro 30, 2007
terça-feira, novembro 27, 2007
segunda-feira, novembro 26, 2007
Próxima estação! Depois da última!
Fuuuuu! Vuuu..Griiii! O ar condicionado alivia as respirações.
Próxima estação:
Entra mais uma:
-Senta, Cátia!
-Caroline, segura!
-Senta, mãe"
-Segura, filha! Próxima Estação:
Três miúdas de três tamanhos. A que viveu a chupeta, a que acabou de passá-la e a que ainda a chucha. Aquela mulher charmosa poderia ser mãe. Ou ainda deseja. Ou abdicou daquela maternidade pelos livros que lhe pesam na mão, num sábado à tarde!
Próxima estação:
As formigas saem da toca. Não há cigarros. Há vontades. Sente-se o formigueiro do metro. O eco, o zunzum dos tubos sujos. Dos ratos que moram nas entranhas.
A que cheira o metro?
A todos os odores que passam e se misturam. E mais aqueles que há-de experimentar. Eco irritante. Parecem ventoinhas gigantes, ávidas de engolir pensamentos. Depressa nos habituamos a eles. Habituamos-nos a tudo! Até à fila de metro. Ao empurrão com sufoco entre o pânico e a normalidade.
Próxima estação:
"Liberdade"!Os trilhos faíscam. Ouve-se o guinchar dos ferros.(Alguém me disse que os trilhos não guincham... Aqueles sim!). TRAVA!
Entra mais uma:
-Senta, Cátia!
-Caroline, segura!
-Senta, mãe"
-Segura, filha! Próxima Estação:
"São Joaquim".Galga o túnel. Só as luzes do interior estão acordadas. Ziiii! Chiam as faíscas. Zinem! Atropela-se o casal nas portas. "Primeiro sair, depois entrar".Próxima estação
:"Vergueiro"!
Três miúdas de três tamanhos. A que viveu a chupeta, a que acabou de passá-la e a que ainda a chucha. Aquela mulher charmosa poderia ser mãe. Ou ainda deseja. Ou abdicou daquela maternidade pelos livros que lhe pesam na mão, num sábado à tarde!
Próxima estação:
"Paraíso"!
As formigas saem da toca. Não há cigarros. Há vontades. Sente-se o formigueiro do metro. O eco, o zunzum dos tubos sujos. Dos ratos que moram nas entranhas.
"Emergência".Correcção: uma mangueira em caso de desespero! Leia-se: É o que podemos ter! Ele arrasta o guarda-chuva no chão. Roça com o som que rasga os círculos salientes do piso.Ou do céu ao contrário! Deprimente, primeiro, depois sujo. Porque nem toda a sujidade é depressiva.
A que cheira o metro?
A todos os odores que passam e se misturam. E mais aqueles que há-de experimentar. Eco irritante. Parecem ventoinhas gigantes, ávidas de engolir pensamentos. Depressa nos habituamos a eles. Habituamos-nos a tudo! Até à fila de metro. Ao empurrão com sufoco entre o pânico e a normalidade.
"Assentos de cor cinza são de uso preferencial. Respeite esse direito".Juvenal poderia ser o nome dele. Esguio. Não sabemos quanto dinheiro já contou na vida. Seu, dos outros, de outros lugares, onde aqui esses não têm valor. Já foi! Saiu enquanto eu não o via. Saiu pela porta elástica que cerra e encerra como uma sugadora. Nem arrastou os pés como o homem de guarda-chuva. Olha o céu ao contrário!Desinteressado, como se todo o desinteresse fosse já um interesse!
"Pedir esmolas e o comércio nos trens são práticas ilegais".E agora mendigamos dignidade e nem sequer há multas por isso. Verdadeiras práticas ilegais, essas dos homens! Parece que vamos levantar voo à velocidade da luz. Vemos os vultos das faíscas..Fuuu!!!...Vuuu!!!!Griii!
"Saída de emergência"
sexta-feira, novembro 16, 2007
quinta-feira, novembro 15, 2007
Cidades a Spray
Uma arte que não domino - do rol das muitas, cujos traços nunca serei capaz de fazer - mas que desde sempre me fascina, pela leveza e espontaneidade com que se desenha no ar, para deixar as paredes respirarem as cores. E depois se entranhar, entranhar. Esta é uma das primeiras fotos que vai mostrar como as paredes de São Paulo respiram o Graffiti.
Autor do Graffiti desconhecido!
Foto: vnrodrigues
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Beco do Batman,
São Paulo,
Vila Madalena
terça-feira, novembro 13, 2007
quinta-feira, novembro 08, 2007
Do lado esquerdo, pelo vidro molhado do autocarro, vê-se uma placa de sinal proibido. Lá, rasgado, está um autocolante com a fotografia de George W. Bush. O bigodinho que lhe puseram é igual ao de Adolf Hitler. Por baixo do nome dele substitui-se o "s" pela cruz suástica. Olho para dentro. Na minha frente leio, pelo ombro de uma mulher: "Por que razão estudar o anti-cristo!". Enquanto isso, a chuva lá fora ainda grita por liberdade!
sábado, novembro 03, 2007
sexta-feira, novembro 02, 2007
Há 40 anos!
Porque somos especiais, com jeitinho!
Aviso que, o que de seguida vai ler, não é nada de novo. Por isso, talvez seja melhor desistir desde já. Será uma perda de tempo.
A perda: A verdade é que nunca consegui entender a incapacidade de uma tal de massa cinzenta, que dizem que alguns de nós têm, para interpretar as situações do momento, independentemente, do que mandam as convenções para uma situação específica. Chama-se: adequar ao contexto! [Talvez seja por isso que me irrito, facilmente, quando as coisas são tão óbvias, não importa a formação que temos, que me parecem desnecessárias quaisquer legendas; ou mesmo um desenho - mas sou péssima em ambas as tentativas, por isso não adiantaria de nada].
O tempo: ontem, hoje, que poderia ser amanhã. A lógica: Se uma casa-de-banho pública de um cinema, por exemplo, tem só cinco sanitas, com cinco portinhas, cinco puxadores abre/fecha e, à porta, estão 20 pessoas na fila à espera de as usar, na ausência de opções, esperamos, ou vamos embora claro está! Mas se ao lado - coladinho na verdade, porta com porta - está um WC vazio para pessoas com mobilidade reduzida [como diz a linguagem pós-tudo] e não há ninguém com esse perfil, continuam as vinte pessoas na fila? Algumas, olharam em redor, não viram outra prioridade para aquela WC vazia e entraram para que a fila fluísse. E assim foi, uma, duas...À terceira, veio uma mulher histérica, funcionária do lugar,a dizer que ninguém pode usar aquele WC, senão "pessoas especiais"...A solução: continuar a penar na fila das 20 pessoas, entretanto chegaram mais,por uma sanita, enquanto esse WC fica vazio. Depois dos gritos, a mulher entrou, e usou a casa-de-banho para "pessoas especiais", ultrapassando a fila. Portanto, aqui está uma pessoa especial!
A perda: A verdade é que nunca consegui entender a incapacidade de uma tal de massa cinzenta, que dizem que alguns de nós têm, para interpretar as situações do momento, independentemente, do que mandam as convenções para uma situação específica. Chama-se: adequar ao contexto! [Talvez seja por isso que me irrito, facilmente, quando as coisas são tão óbvias, não importa a formação que temos, que me parecem desnecessárias quaisquer legendas; ou mesmo um desenho - mas sou péssima em ambas as tentativas, por isso não adiantaria de nada].
O tempo: ontem, hoje, que poderia ser amanhã. A lógica: Se uma casa-de-banho pública de um cinema, por exemplo, tem só cinco sanitas, com cinco portinhas, cinco puxadores abre/fecha e, à porta, estão 20 pessoas na fila à espera de as usar, na ausência de opções, esperamos, ou vamos embora claro está! Mas se ao lado - coladinho na verdade, porta com porta - está um WC vazio para pessoas com mobilidade reduzida [como diz a linguagem pós-tudo] e não há ninguém com esse perfil, continuam as vinte pessoas na fila? Algumas, olharam em redor, não viram outra prioridade para aquela WC vazia e entraram para que a fila fluísse. E assim foi, uma, duas...À terceira, veio uma mulher histérica, funcionária do lugar,a dizer que ninguém pode usar aquele WC, senão "pessoas especiais"...A solução: continuar a penar na fila das 20 pessoas, entretanto chegaram mais,por uma sanita, enquanto esse WC fica vazio. Depois dos gritos, a mulher entrou, e usou a casa-de-banho para "pessoas especiais", ultrapassando a fila. Portanto, aqui está uma pessoa especial!
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