Depois de atravessar um deserto árido e lento de abstinência bibliófila, onde a literatura parecia aquela miragem típica dos preguiçosos, regresso, paulatinamente, à urdidura ocular, que passeia pelas letras e contra letras dos livros (quanto trânsito vai ali na folha branca, meu bem!), que me vão chegando à mão, à mochila e, claro, à mesinha-de-cabeceira.
A semana que passou foi dedicada à leitura de bulas, tão nobre prosa da Farmacologia, a tentar curar uma gastrite, que, afinal, malvada, não era gastrite, espia de uma bactéria ou vírus quaisquer (que me colocaram numa subserviência contumaz pela quietude e dieta radical), para depois me entregar com certo deleite à leitura atenta do antibiótico e pró-biótico, na declaração de guerra implacável ao regimento bacteriológico que se apresentava.
Pode, pois, perceber-se que, sem o meu consentimento, o meu organismo andou em bélicas campanhas. Talvez por isso, tenha sentido o efeito de bombas, canhões, e, quiçá, tempestades tropicais que se desencadearam no baixo ventre. Controlada a situação por agentes secretos que continuo a infiltrar no organismo, apercebo-me de que a doença me curou do jejum literário, empurrando-me, enfraquecida, a ciciar por companhia fiel das folhas livres desses desordeiros libertários, que são os livros.
E isso sem que Sun Tzu vertesse uma sequer palavra. Tal empreitada deixou-me, pois, como despojos de guerra a leitura de dois belos livros e o início de uns quantos, resgatando o perigo eminente da torre de babel que empilho na mesa ao lado da cama. É, sabemos, um dia a mesinha-de-cabeceira vem abaixo.
Literatura destes dias:
1. "A Máscara de África", V.S.Naipaul, Quetzal, 2013
2. "O Olho de Hertzog", João Paulo Borges Coelho, Editorial Caminho, (Prémio Leya 2009)
3. "O Volume do Silêncio", João Anzanello Carrascoza, Cosac Naify, 2012
4. David Trueba, "Aberto toda a noite", Alfaguara, 2012 (terminado, entretanto)
Tenham uma boa semana!
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