por vanessa rodrigues
A música tem arames que se arranham.
Murmúrios e geremias.
São guitarras, são harpas, são rufares ao longe, são címbalos,
guitarras acústicas onde deslizam dedos cansados, assobios,
ligeiras mágoas musicadas, esperanças,
risos, mudos pensamentos parados,
enganos,
manipulações dedilhadas com a retórica,
a promessa de suspicazes vontades,
gracejos que só os suspiros sabem fazer,
madeiras que roçam,
corpos a estrebuchar, miméticos,
chaplinianos como no cinema, mudos, de olhares impositivos,
opressivos,
agora essas mesmas guitarras,
como máquinas, como chaminés monótonas de comunistas vontades,
são número;
vamos vestir-lhes de ideologias,
despir o cérebro,
entorpecer de ruídos brancos,
o pau na cabeça,
as roupas que se vestem-despem-vestem-despem;
estridentes guitarras, estridentes, metálicas,
acutilantes,
reverberadas em ruidosas irritações auditivas,
parem que sufoca, parem que atrofia, parem que incomoda,
parem, façam silêncio, mudas vontandes, inertes ideologias,
parem que sufocam,
parem, que se desmorona cá dentro,
parem que temos frio,
cessem as guitarras,
estrídulas vozes,
as violentas acústicas que nos ensurdecem,
parem de silenciosas propagandas,
parem,
deixem que o sangue escorra,
taciturnos,
usem o silenciador,
a caçadeira de cano cerrado, o jogo cerebral, tiro ao alvo,
a mentira-a-verdade-a-mentira,
dissimulem, schhh,
escondam, escondam o embuste,
dobrem os caracteres,
batam palmas, psicadélicos,
dancem até cair, tombem, deixem tombar,
e quando mais nada restar, escondam de novo,
enterrem, abram a cova de terra e cubram de flores,
que outros corpos hão-de nascer,
novos livros se hão-de escrever,
novos e os mesmos erros havemos de cometer.