terça-feira, agosto 26, 2008
quarta-feira, agosto 20, 2008
"A Viagem do Elefante"
"Chegamos sempre ao sítio aonde nos esperam". Livro dos Itinerários. "A viagem do elefante" - o mais recente romance de José Saramago sai em Dezembro. Se me perguntarem, sou saramaguiana desde pequenininha!
terça-feira, agosto 19, 2008
A nossa capacidade para avaliar o que é ou não notícia é, de dia para dia, inqualificável. Explico: não há tabelas suficientemente eficazes para avaliar aquilo que é, actualmente, intangível: o valor notícia! Começa a ser dúbio, na realidade, o que é isso de ser "jornalista". Falta muito pouco para a espécie entrar em vias de extinção. Por cá, está no poder o jornalismo "comidinha- rápida" - entenda-se aquele que quer dizer tudo e não fala de nada; e inventa do nada tudo para, simplesmente, "animar" os olhos ansiosos por "pãozinho e circo"... Para já, só aqui isto é notícia...Mas não falta muito para o vírus se espalhar!
quinta-feira, agosto 14, 2008
Subsolos do Cais 23
Maria entra no prédio. A porta chia. Roçam as dobradiças. Acutilantes, secas, desgarradamente estéreis. De óleo só o cabelo do solteiro do subsolo. E o rançoso dos ralos. As janelas estão remendadas: fita-cola castanha, transparente, sacos plásticos do Continente: amarelos, brancos. Miaaauu, um gato “stressado”, eriçado, empenhado em roçar-se depois. As socas tacteiam o chão lapidado de solas.
Depois “PLOCS” violentos. Parece que pisa ovos fora do prazo de validade. E aquela saia foi moda há anos. As cores estão murchas, como as mãos: gastas pela lixívia. "Domestos 3" para um-branco-mais-branco-que-quase-lava-almas. Menos as paredes daquela entrada. A sujidade entranhada é inquilina fiada, com lugar cativo do alto, amigada com aracnídeos, exímios da arte de costurar teias. Se tivessem corpo, poderiam ser executivos de sucesso. Aquelas paredes da entrada já que mereciam um produto assim. Vai continuar a merecer mais uns quantos milhares de badaladas de relógios estragados. Sem tempo. O cão ladra. Gane, agora. Latidos roucos ansiosos pelo pão. Hoje vai ter migalhas, que o pão é para o Zé.
O velho do quarto andar sai do elevador. (schiuu...é o senhorio!) Balbucia amenidades consigo, enquanto leva ainda o jornal que assina há 40 anos debaixo desse sovaco azedo Brut século passado. Coitado, e ele que até é tão limpinho! Clique! Tlac! Zum! Flit! A saia roda. As flores desbotadas bem que ganham viço no ar. Grades malandras quase se desfazem em pedacinhos metálicos. Elevador que quase encalha.
Zás! Maria vai. Maria sai. Ai, Maria: outra! O casal de namorados enrosca-se nas escadas. Ele tapa a cabeça rapada com o carapuço do casaco bordado a um “I´m the Man” (talvez o único naquele antro de almas descasadas): um Eminen de boca colada nos lábios da “mina” de mamas que começam a encher o soutien. Mais uns meses e rompem. Meias amarelas. Sapatos roxos. E amanhã há mais.
No terceiro andar moram gritos. Uns dias mais bem humorados – raramente – outros mais inflamados – quase sempre! A porta para o lado de dentro dá para uma mulher -trombeta, desajustada às necessidades dos filhos da era high tech: Boicote aos pais.
Apareçam um dia destes na nossa vida, estamos em “black out” até à idade adulta. Ardem de suor adolescente, fervidos pelo poder absoluto de eu sou um máximo-e-ai-de-quem-me-contrariar. E só para contrariar: bem vistas as coisas são vítimas, sim senhor. É um problema de mobiliário. A culpa não é da fase do armário. Já saíram dela: estão na fase da cama. Na tua ou na minha? Ele não pode fazer isso: IPOD, POD...Basta ligá-lo. Plug in...
Um TAC-TAC sai das escadas. Entra Dona Rita. O quiabo está quase grelhado. Depois o milho. E hoje vamos comer migalhas que o pão é para o Zé na prisão amanhã à tarde. Ela tirou o dia de folga para viajar quatro horas de autocarro. Abraçar durante 20 minutos. [18 dos quais com o mau humor acumulado - arrepende-se nos dois últimos - mais que as milhas aéreas para trocar. Cartão ouro mundial para o principal mentor dos dentes cerrados]. E voltar. Uma vez por mês não custa. Custa é saber quando ele sai. Se é que ele sai.
Entra a polícia. Tiros para o ar. Se tivessem luz fariam um daqueles fogos-de-artifício quase pseudo-carnaval. Olha a quica, a quiquinha... Amor, passa-me um cigarro. Conta os trocos. É dia dez e o pilim já se foi. Faltam 20 dias. Quem acha que a vida é dura não conhece o Prédio do Cais 23.
Cheira a suor. Houve ouro escondido um dia. Devoram-se corpos. Apanha-se beatas do chão: uma e duas vezes. Até juntar a terceira para fazer mais uma. Sugam-se migalhas. Vende-se sentimentos. Desfilam olhos famintos no buraco da fechadura. E Maria vai coser massa com frango para hoje, porque amanhã é dia de pão!
Depois “PLOCS” violentos. Parece que pisa ovos fora do prazo de validade. E aquela saia foi moda há anos. As cores estão murchas, como as mãos: gastas pela lixívia. "Domestos 3" para um-branco-mais-branco-que-quase-lava-almas. Menos as paredes daquela entrada. A sujidade entranhada é inquilina fiada, com lugar cativo do alto, amigada com aracnídeos, exímios da arte de costurar teias. Se tivessem corpo, poderiam ser executivos de sucesso. Aquelas paredes da entrada já que mereciam um produto assim. Vai continuar a merecer mais uns quantos milhares de badaladas de relógios estragados. Sem tempo. O cão ladra. Gane, agora. Latidos roucos ansiosos pelo pão. Hoje vai ter migalhas, que o pão é para o Zé.
O velho do quarto andar sai do elevador. (schiuu...é o senhorio!) Balbucia amenidades consigo, enquanto leva ainda o jornal que assina há 40 anos debaixo desse sovaco azedo Brut século passado. Coitado, e ele que até é tão limpinho! Clique! Tlac! Zum! Flit! A saia roda. As flores desbotadas bem que ganham viço no ar. Grades malandras quase se desfazem em pedacinhos metálicos. Elevador que quase encalha.
Zás! Maria vai. Maria sai. Ai, Maria: outra! O casal de namorados enrosca-se nas escadas. Ele tapa a cabeça rapada com o carapuço do casaco bordado a um “I´m the Man” (talvez o único naquele antro de almas descasadas): um Eminen de boca colada nos lábios da “mina” de mamas que começam a encher o soutien. Mais uns meses e rompem. Meias amarelas. Sapatos roxos. E amanhã há mais.
No terceiro andar moram gritos. Uns dias mais bem humorados – raramente – outros mais inflamados – quase sempre! A porta para o lado de dentro dá para uma mulher -trombeta, desajustada às necessidades dos filhos da era high tech: Boicote aos pais.
Apareçam um dia destes na nossa vida, estamos em “black out” até à idade adulta. Ardem de suor adolescente, fervidos pelo poder absoluto de eu sou um máximo-e-ai-de-quem-me-contrariar. E só para contrariar: bem vistas as coisas são vítimas, sim senhor. É um problema de mobiliário. A culpa não é da fase do armário. Já saíram dela: estão na fase da cama. Na tua ou na minha? Ele não pode fazer isso: IPOD, POD...Basta ligá-lo. Plug in...
Um TAC-TAC sai das escadas. Entra Dona Rita. O quiabo está quase grelhado. Depois o milho. E hoje vamos comer migalhas que o pão é para o Zé na prisão amanhã à tarde. Ela tirou o dia de folga para viajar quatro horas de autocarro. Abraçar durante 20 minutos. [18 dos quais com o mau humor acumulado - arrepende-se nos dois últimos - mais que as milhas aéreas para trocar. Cartão ouro mundial para o principal mentor dos dentes cerrados]. E voltar. Uma vez por mês não custa. Custa é saber quando ele sai. Se é que ele sai.
Entra a polícia. Tiros para o ar. Se tivessem luz fariam um daqueles fogos-de-artifício quase pseudo-carnaval. Olha a quica, a quiquinha... Amor, passa-me um cigarro. Conta os trocos. É dia dez e o pilim já se foi. Faltam 20 dias. Quem acha que a vida é dura não conhece o Prédio do Cais 23.
Cheira a suor. Houve ouro escondido um dia. Devoram-se corpos. Apanha-se beatas do chão: uma e duas vezes. Até juntar a terceira para fazer mais uma. Sugam-se migalhas. Vende-se sentimentos. Desfilam olhos famintos no buraco da fechadura. E Maria vai coser massa com frango para hoje, porque amanhã é dia de pão!
terça-feira, agosto 12, 2008
segunda-feira, agosto 11, 2008
Risco de indigestão
É doce com sal. Amargo com açúcar. Míope na sua perfeita visão. E exímio na perfeita turvação da análise da vida. "Blurred"? "I feel nothing"!
Ainda não é feliz quando ri, nem triste quando chora. Fala com o silêncio. Está calado quando grita as palavras rasgadas de uma inteligente retórica. Imita sem ser mimético. Grita sem ser ouvido. Olha sem ser notado. Arrasta-se sem andar. Mergulha sem se molhar. Come ar. Vomita pensamentos sem ter uma única ideia. Vazio. Despojado ostentador. Resumido homem barroco. Chato. Lamacento. Lesma rápida! Lamenta a tampa da garrafa de plástico; elástico. Vazio, multiplicado por zero para dar nada! E sim, este ser não existe: é insípido, inodoro e incolor, insensível; um resto de anti-séptico que deitamos no algodão para desinfectar.
Homem afectado, desinfectado...alienado. Como gostamos: asséptico: tão-sem-gosto; tira-gosto; assimilado. Um ser gastronómico "fast-fast-comidinha ligeira": para comer sem mastigar. Engolir sem saborear. Apimentar. Salgar! Atenção: risco de indigestão!
Ainda não é feliz quando ri, nem triste quando chora. Fala com o silêncio. Está calado quando grita as palavras rasgadas de uma inteligente retórica. Imita sem ser mimético. Grita sem ser ouvido. Olha sem ser notado. Arrasta-se sem andar. Mergulha sem se molhar. Come ar. Vomita pensamentos sem ter uma única ideia. Vazio. Despojado ostentador. Resumido homem barroco. Chato. Lamacento. Lesma rápida! Lamenta a tampa da garrafa de plástico; elástico. Vazio, multiplicado por zero para dar nada! E sim, este ser não existe: é insípido, inodoro e incolor, insensível; um resto de anti-séptico que deitamos no algodão para desinfectar.
Homem afectado, desinfectado...alienado. Como gostamos: asséptico: tão-sem-gosto; tira-gosto; assimilado. Um ser gastronómico "fast-fast-comidinha ligeira": para comer sem mastigar. Engolir sem saborear. Apimentar. Salgar! Atenção: risco de indigestão!
quinta-feira, agosto 07, 2008
Ordem e Progresso
Prédios azuis. Vermelhos. Amarelos. Casas. Fissuras. Fendas. Fechaduras. Frinchas. Tendas de Papelão. Cadeiras Rasgadas. Flores amarfanhadas. Desabrochadas. Arrancadas. Amostras de flores. Laços de prendas nas árvores despidas. Galhos. Folhas. Madeira estalada. Árvores. Amostras de árvores. Cimento. Betão. Betão branco. Pontes. Cinzento. Ar dormido. Ar alienado. Amostra de Ar. Azulejo, “Verdalejo”. “Amarelejo”. Tijoleira. Carros. Viaturas. Autocarros. Torniquetes. “Ônibus”. Autocarro para todos! Suados.
Categoria “sem-carro”. Ciclovias. Recua: nada disso! Arranha-Céus. Fios eléctricos a céu aberto. Céu. Azul. Vermelho. Amarelo. Cinzento. Carrinhas Amarelas. Blindadas. Soluçadas. Protex? Cubículos. Caixas de homens com tecto. Sem-tecto. Amostras de casas. Homem. Pessoas. Multidão. Civilização. Bichos. Avenidas. Ruas. Vielas. Praças. Bustos. Estátuas. Amostras de homens. Páre. Sentido Obrigatório. Placas azuis. Vermelhas. Amarelas. Cinzentas. Cinzeladas. Empoeiradas. Rua Groenlândia. Rua Funchal. Rua Piracuama. Apinajés. Rua Estados Unidos. Rua Canadá. Inglaterra. Alemanha. Rua mundo. Cabem todos aqui?
Ônibus universal. Há vida depois do mundo? Sedex. Envie já. “Mandou, chegou!”. Carros blindados. Espelhados. Rua Tautik. Rua Pelotas. Carros. Galhos. Fios eléctricos. Cruzados. Enrugadas. Emaranhados. Estilizados. Táxi. Moto. Helicóptero. Comboio. Trem. Train? Metro. Pernas, pés, mãos. Cimento. Sapatas. Alicerces. Amostras de passos. Compasso. Alienado. Rua Aleluia. Via São Paulo?
Categoria “sem-carro”. Ciclovias. Recua: nada disso! Arranha-Céus. Fios eléctricos a céu aberto. Céu. Azul. Vermelho. Amarelo. Cinzento. Carrinhas Amarelas. Blindadas. Soluçadas. Protex? Cubículos. Caixas de homens com tecto. Sem-tecto. Amostras de casas. Homem. Pessoas. Multidão. Civilização. Bichos. Avenidas. Ruas. Vielas. Praças. Bustos. Estátuas. Amostras de homens. Páre. Sentido Obrigatório. Placas azuis. Vermelhas. Amarelas. Cinzentas. Cinzeladas. Empoeiradas. Rua Groenlândia. Rua Funchal. Rua Piracuama. Apinajés. Rua Estados Unidos. Rua Canadá. Inglaterra. Alemanha. Rua mundo. Cabem todos aqui?
Ônibus universal. Há vida depois do mundo? Sedex. Envie já. “Mandou, chegou!”. Carros blindados. Espelhados. Rua Tautik. Rua Pelotas. Carros. Galhos. Fios eléctricos. Cruzados. Enrugadas. Emaranhados. Estilizados. Táxi. Moto. Helicóptero. Comboio. Trem. Train? Metro. Pernas, pés, mãos. Cimento. Sapatas. Alicerces. Amostras de passos. Compasso. Alienado. Rua Aleluia. Via São Paulo?
segunda-feira, agosto 04, 2008
sábado, agosto 02, 2008
Literatura/Prémio Portugal Telecom
Em primeira mão, a "Crónica" revela os finalistas do "Prêmio Portugal Telecom de Literatura, 2008"
O júri do Prémio de Literatura Portugal Telecom divulgou há instantes, numa cerimónia no Consulado de Portugal, em São Paulo, os dez candidatos ao veredicto final - que sai a 29 de Outubro.
“Eu hei-de amar uma pedra”, romance do escritor português António Lobo Antunes, publicado em 2004 foi um dos seleccionados, bem como “Os da minha rua” (2007) do escritor angolano Ondjaki e "O sol se põe em São Paulo" (2007) do escritor e jornalista brasileiro Bernardo Carvalho.
A lista completa é:
1."20 poemas para seu walkman", Marília Garcia Cosac, Naify / 7Letras,
POESIA BRASILEIRA
2."Antonio", Beatriz Bracher, Editora 34
ROMANCE BRASILEIRO
3. "Eu hei-de amar uma pedra", António Lobo Antunes, Objetiva
ROMANCE PORTUGUÊS
4. "Histórias de literatura e cegueira", Julián Fuks, Record
CONTO BRASILEIRO
5."Laranja seleta", Nicolas Behr, Língua Geral
POESIA BRASILEIRA
6."O amor não tem bons sentimentos", Raimundo Carrero, Iluminuras
ROMANCE BRASILEIRO
7. "O filho eterno", Cristovão Tezza, Record
ROMANCE BRASILEIRO
8. "O sol se põe em São Paulo", Bernardo Carvalho, Companhia das Letras
ROMANCE BRASILEIRO
9. "Os da minha rua", Ondjaki, Língua Geral
CONTOS ANGOLANOS
10. "Tarde", Paulo Henriques Britto, Companhia das Letras
POESIA BRASILEIRA
O júri do Prémio de Literatura Portugal Telecom divulgou há instantes, numa cerimónia no Consulado de Portugal, em São Paulo, os dez candidatos ao veredicto final - que sai a 29 de Outubro.
“Eu hei-de amar uma pedra”, romance do escritor português António Lobo Antunes, publicado em 2004 foi um dos seleccionados, bem como “Os da minha rua” (2007) do escritor angolano Ondjaki e "O sol se põe em São Paulo" (2007) do escritor e jornalista brasileiro Bernardo Carvalho.
A lista completa é:
1."20 poemas para seu walkman", Marília Garcia Cosac, Naify / 7Letras,
POESIA BRASILEIRA
2."Antonio", Beatriz Bracher, Editora 34
ROMANCE BRASILEIRO
3. "Eu hei-de amar uma pedra", António Lobo Antunes, Objetiva
ROMANCE PORTUGUÊS
4. "Histórias de literatura e cegueira", Julián Fuks, Record
CONTO BRASILEIRO
5."Laranja seleta", Nicolas Behr, Língua Geral
POESIA BRASILEIRA
6."O amor não tem bons sentimentos", Raimundo Carrero, Iluminuras
ROMANCE BRASILEIRO
7. "O filho eterno", Cristovão Tezza, Record
ROMANCE BRASILEIRO
8. "O sol se põe em São Paulo", Bernardo Carvalho, Companhia das Letras
ROMANCE BRASILEIRO
9. "Os da minha rua", Ondjaki, Língua Geral
CONTOS ANGOLANOS
10. "Tarde", Paulo Henriques Britto, Companhia das Letras
POESIA BRASILEIRA
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