Antes dele pisar aquela calçada suja outros, diferentes dele, pisaram-na.
“E o senhor vai descer até nós! E vai iluuuminaaarrr o caminho!”
Antes dele vestir aquelas calças desajeitadas, sujas, roçadas, bafientas, outros como ele o desdenharam. “Ele é omnisciente e poderoso! Te reconhece em cada gesto dele!”
Podia ser por amor. Paixão. Ignorância. Mas nem isso ele sabia!
Bafo seco, retardado da semana passada, ainda, quem sabe. (Bafo: ar exalado dos pulmões; mas nisso os brasileiros são mais perspicazes: bafo é conversa fiada. É isso mesmo - a palavra justa. Obrigada Brasil! Que se lixe o acordo ortográfico).
E ele, nesse bafo bem brasileiro: desfiava palavras como quem tira a mão do bolso, quando se o tem. Ele não tinha. Mas berrava no meio da praça. E este senhor, meus senhores, é louco! Por berrar, claro. Não interessa o que ele diz. (nada mesmo! Mas, até que, bem vistas as coisas, quando comparado com alguns directos da TV portuguesa até que ele diz muito, não?). Sintético, o homem!
“Venham até mim. Eu vos salvarei!”
Ou não. Até podia ser. Mas não me salvou a mim. Também não fui até ele. Deveria? E passei por ele, como toda a gente. No desejo de tapar os ouvidos. Sobretudo no momento em que a voz estridente saiu – como fisgada o meu ouvido. “Não o ouvis? Ignorais os desígnios do senhor?”
É, parece que esse senhor vai ter de esperar mais um pouco. Como um pouco de dicção a voz até que poderia ficar mais radiofónica. Televisiva, quem sabe, com um pouco mais de performance. “Ele é poderoso. Redentor!” Olha!, melhorou!
Empunhava aquele livro rasgado na mão. Empunhava como arma poderosa – o poder do “primo-não-primo-o-gatilho”. E era ele. República. Na praça da República. Em pleno uso da democracia: era o senhor F. de calças sem bolsos - voz sem dicção, sem amor, sem marketing próprio "eficiente" (diz-se da causa que produz efeito certo, explica a Filosofia – e seria o que ele fazia, da barata, sem propósitos comerciais) [Saberia o senhor que até podia ter lucro com uma dicção melhor?] - quem premia o gatilho das palavras que só eu ouvia para perceber se faziam algum sentido. E faziam? Interessa a quem, mesmo?
Meus senhores, deixai o povo julgar o homem da Praça da República que não faz mais do que a sua obrigação, com a responsabilidade de berrar num lugar, com um nome assim, e ninguém o ouvir!
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