segunda-feira, junho 25, 2007




Há qualquer coisa de Raduan Nassar em "Álbum de Família" (1945). Ou a Lavoura Arcaica é um mero esboço da disfuncionalidade de Nelson Rodrigues. Melhor: da família edipiana (além disso) que está em cena no "Espaço Parlapatões", em São Paulo. Mais do que o espectro de Édipo, é a teoria de Freud caricaturada - revista, hiperbolizada e publicada.


O pai Jonas ama a filha Glória (que odeia a mãe) que vai para colégio interno - e desde então ele só consegue ter sexo com "cabritinhas virgens" (com a anuência da mulher "Senhorinha" - a mãe- que o traiu com o filho "Nono" - que depois elouqueceu e corre nu aos gritos pela casa (antro de perdição?) e com o patrocínio da cunhada beata (que o ama desde que ele a desflorou, bêbado, numa noite assim e assim; a filha Glória é expulsa do colégio por ter uma relação lésbica; o irmão Guilherme, seminarista, castra-se porque não consegue viver sem o amor da irmã Glória (e depois, num arroubo de "os-deuses -devem -estar- loucos" mata-a em frente à imagem santa do cristianismo [previsível] porque ela lhe nega o amor que só ao pai (que acha parecido com Jesus Crsito) quer dar. Mas o fôlego não se esgota aqui: uma das cabritinhas desfloradas morre no parto - de um filhos bastardos- por ter a bacia pequena demais para que a criança abra os olhos ao mundo. Mais:"Senhorinha" sabe que Eduardo (outros dos filhos para encerrar o álbum) a ama desde novo e deixou Heloísa - a mulher com quem se casou para esquecer o incesto mental. Mas nós sabemos que ela também o ama. Morte, Tragédia- sem heróis ou heroínas. A causa e efeito de uma família dos nossos tempos. Pode ser, não foi? Seria?

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